Bristol (Tipo 156) Beaufighter

.
.
.

O Bristol Beaufighter foi um caça pesado britânico que entrou ao serviço da Royal Air Force (RAF), um ano depois do inicio da segunda guerra mundial, no momento em que era desesperadamente necessário. 
Desenvolvido como um caça de longo alcance a partir dos componentes principais do torpedeiro Bristol Beaufort, inicialmente como um empreendimento particular financiado pela propria Bristol Aeroplane Company, o projeto acabaria por receber a aprovação do Ministério do Ar Britânico pouco mais de oito meses depois de ter sido iniciado e duas semanas antes do primeiro protótipo voar seria emitida, uma ordem de produção para 300 aeronaves sob especificação F.17/39. 
Ao contrário do Beaufort, o Beaufighter teve uma longa carreira, servido em quase todos os teatros da Segunda Guerra Mundial , primeiro como um caça noturno, e depois como caça-bombardeiro, e torpedeiro.
.
.
.
.
Ano
1939
Pais de Origem
Rein Unido
Função
Caça pesado
Variante
Mk X
Tripulação
2
Motor
2 x motores radiais Bristol Hercules de 1600 cv
Peso (Kg)
Vazio
7072
Máximo
11521

Dimensões (m)
Comprimento
12,60
Envergadura
17,65
Altura
4,84

Performance (Km)
Velocidade Máxima
515
Teto Máximo
5795
Raio de ação
2800
Armamento
4x canhões Hispano Mk III de 20 mm  no nariz e dependendo da missão:
 - Para o Comando de Caças da RAF (F)
4 x metralhadoras Browning M1919 de 7,7 mm
2 x metralhadoras Browning M1919 de 7,7 mm
8 x foguetes RP-3 de 27 kg ou
2 x bombas de 450 kg
 - Para o Comando Costeiro da RAF (TF):
1 x metralhadora manual Vickers K ou Browning operada pelo observador à retaguarda
1× torpedo britânico de 450 mm, ou
1×  torpedo Mark 13 da US Navy 
Países operadores
Reino Unido, Austrália, Canadá, República Dominicana, Israel,Nova Zelândia, Noruega, Polónia, Portugal, África do Sul, EUA
Fontes
.
GALERIA
.
Beaufighter F Mk I, Egito, 1943
.
Beaufighter C Mk I, RAAF, 1942
.
Beaufighter F Mk II, RAF
.
Beaufighter C Mk VI, RAF  CC, 1945
.
Beaufighter TF Mk X, RAF CC 1944
.
Beaufighter Mk 21 DAP, RAAF
.
HISTÓRIA
.
Pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, a Royal Air Force sentiu a falta de caças pesados, especialmente caças nocturnos com armamento pesado e de caças de escolta de longo alcance. Ciente dessa necessidade a Bristol Aeroplane Company decidira desenvolver autonomamente um projeto para um caça pesado baseado no torpedeiro Bristol 152 Beaufort, partindo do principio que utilizando componentes de uma aeronave já existente permitiria reduzir o tempo de desenvolvimente e aproveitar grande parte das linhas de produção já existente diminiundo drasticamente o periodo para o inicio da produção em serie. 

Beaufighter, primeiro prototipo (R2052)
Coincidindo com os atrasos no desenvolvimento do Westland Whirlwind, um caça bimotor armado com canhões, a Bristol sugeriu a idéia do caça pesado baseado no Beaufort ao Ministério do Ar, o Bristol 156, caça bimotor com quatro canhões fixos e dois moveis equipado com motores radiais Hercules, em vez do Taurus usado no Beaufort cujo desempenho era manifestamente insuficiente para a nova aeronave.

Considerando os argumentos da Bristol, que a adaptação de uma aeronave já existente a novas funções e novo desempenho reduziria drasticamente o tempo de concepção e de entrada em produção, o Ministério do Ar emitiu a especificação F.11/37 para uma aeronave interina (até que o Westland Whirlwind ficasse disponivel) com as especificações propostas pela Bristol, que iniciou de imediato a construção de um protótipo e tendo como objetivo o início da produção em serie para o início de 1940. O Ministério encomendou dois protótipos baseados na conversão do Beaufort e dois construídos a partir do zero.

O primeiro, dos quatro protótipos, voou em Julho de 1939 e a produção foi autorizada com as aeronaves equipadas com os motores Hercules XI de 1500cv de potência. O Ministério do Ar, havia já colocado uma encomenda para a produção de 300 aeronaves sob a especificação F.11/39 duas semanas antes do primeiro voo. A partir daí o avião foi desenvolvido em duas linhas, a primeira como caça noturno e a segunda como avião de ataque marítimo.

Beaufighter F Mk I, com radar AI Mk. IV
O Bristol 156 Beaufighter tinha visiveis semelhanças com o Beaufort do qual herdara, as asas, as superfícies de controle, o trem de aterragem e a seção traseira da fuselagem. A restante fuselagem sofrera alterações signifcativas, o compartimento de bombas fora eliminado, os postos do bombardeador e do artilheiro da retaguarda foram removidos deixando apenas o piloto com uma cabina semelhante à de um caça e o posto para um navegador e operador de radar à retaguarda sob uma pequena bolha de Perspex (Plexiglas) onde fora a torreta dorsal do Beaufort. Foram montados 4 canhões Hispano Mk III de 20mm na área inferior da fuselagem, complementados por seis metralhadoras Browning de 7,7 mm nas asas (quatro na asa direita, duas na asa esquerda - a assimetria era causada pela montagem da luz de aterragem na asa esquerda). Este pesado armamento seria usado pelos Beaufighter  para supressão do fogo defensivo e para atacar navios inimigos, especialmente escoltas e pequenas embarcações quando a aeronave foi convertida para missões de bombardeiro de apoio e torpedeiro. O recuo dos canhões e metralhadoras era tal que poderia reduzir a velocidade da aeronave por cerca de 25 nós quando eram disparados.

Beaufighter C Mk VI, com torpedo de 450 mm
Os motores Bristol Taurus do Beaufort não eram suficientemente potentes para um caça e por isso foram substituídos pelos mais poderosos Bristol Hercules (foram feita experiências com os motores Merlin que também se mostraram inadequados as necessidades da aeronave). A potência extra desenvolvida pelos novos  motores criou problemas de vibração, resolvidos com a sua  instalação  em suportes mais longos e mais flexíveis, que se estendiam a partir da parte dianteira das asas.

Para evitar a deslocação do centro de gravidade para a frente da aeronave o nariz foi encurtado, o que colocou a maior parte da fuselagem atrás da asa e as carenagens dos motores e hélices mais à frente do que a ponta do nariz, tornando a aparência do Beaufighter caracteristicamente “curto e grosso”.

Beaufighter F Mk.VI,  USAF, 416º NF Sqn, Italia, 1943
Pelos padrões de caça, o Beaufighter Mk.I era bastante pesado e lento, tinha um peso de 7000 kg e uma velocidade máxima de apenas 540 km/h, porém as suas dimensões generosas tinham espaço para facilmente ser instalado o recente radar de interceção aérea AI (Airborne Interception), na sua fuselagem inferior, com as antenas acomodadas no nariz, tornando-o um caça noturno por excelência. Mesmo carregado com 9.100 kg a aeronave era suficientemente rápida para abater os bombardeiros alemães que no inicio de 1941 passaram e efetuar frequentes incursões noturnas no Reino Unido. 

Como a produção do Westland Whirlwind já havia sido interrompido devido aos problemas com os seus motores Rolls-Royce Peregrine, o Beaufighter assumiu o papel de caça noturno até ao aparecimento, em finais de 1942 do, muito mais rápido De Havilland Mosquito que assumiu esse papel. Os Beaufighter, mais pesados, passaram a partir dessa altura a assumir outra funções, como ataque ao solo e interdição de longo alcance, em grande parte dos teatro, de operações da segunda guerra mundial.

O Beafighter F Mk I ficou disponivel para a RAF a partir de 1941 para missões de caça noturno, mas simultaneamente fora desenvolvido o Beaufighter C Mk I para o Comando Costeiro adaptado ao transporte de bombas.

Beaufighter TF Mk X,  escoltado por um P-51 Mustang
A escasses de motores Hercules devido à prioridade dada ao Short Stirling, conduziram ao desenvolvimento da versão Beaufighter F Mk II, que usava dois motores Rolls-Royce Merlin colocados em naceles designadas por Power Eggs (mais tarde adaptadas ao Avro Lancaster). Apenas 337 aeronaves Mk II foram construidas e o seu desempenho foi fraco devido à insuficiente potência dos motores, responsavel por inumeros acidentes.

Em 1942 a produção é convertida para uma nova variante o Beaufighter F Mk VI, que utilizava dois motores Hercules XVI, e adaptava uma nova empenagem em diedro positivo. Interinamente o Comando Costeiro solicitou aeronaves adaptadas para o transporte de um torpedo de 450 mm (Beaufighter TF Mk VI). Esta variante daria lugar ao mais produzido de todos os Beaufighter, o TF Mk X (2231 unidades produzidas), logo que ficou disponivel o novo motor Hercules XVII, com um desempenho aprimorado para baixa altitude e que desenvolvia 1.735cv, capacitando a aeronave como um bombardeiro torpedeiro de elevado desempenho. o Beaufighter TF Mk X (Torpedo Fighter), comumente conhecido como o "Torbeau".

Os primeiros modelos do Mk X dispunham de um radar ASV (Air to Surface Vessel), substituído no final de 1943 pela AI Mark VIII instalado num nariz em forma de dedal, permitindo que atuasse em todas as condições meteorológicas, de dia e de noite. Para além disso as aeronaves de produção mais tardia receberam um extenso prolongamento do estabilizador vertical que permitiu obter melhor estabilidade.

A aeronave provou ser tão eficaz que o Comando Costeiro se tornou o principal utilizador do Beaufighter, substituindo os obsoletos Beaufort, e Blenheim para ataques de precisão contra comboios marítimos, com torpedos ou com foguetes RP-3.
Beaufighter Mk 21, RAAF, Port Moresby, 1942

O Beaufighter C Mk.I, entrara ao serviço do Comando Costeiro em maio 1941 com o 252º esquadrão que operava a partir de Malta e em abril de 1943, os Beaufighter C Mk VI do 254º esquadrão equipados para transportar de um torpedo de 450mm (britânico) ou de 572mm (Americano) fizeram os primeiros ataques de com torpedos, afundando dois navios mercantes ao largo da Noruega. 

No Mediterrâneo, a USAAF recebeu 100 Beaufighter no verão de 1943, para operações de escolta de comboios, e ataque ao solo, mas voaram principalmente missões de interceptação noturna defensiva. Embora o caça noturno Northrop P-61 tenha chegado em dezembro de 1944, os Beaufighter da USAAF continuaram a voar em operações noturnas em Itália e França até o final da guerra.

O Beaufighter chegou a esquadrões da Ásia e do Pacífico, em meados de 1942, onde foi apelidada pelos japoneses de “morte sussurante”, supostamente por atacar aeronaves sem ser visto ou ouvido até ser tarde demais.

No Teatro do Sudeste Asiático, o Beaufighter F Mk.VI operou a partir da Índia como caça noturno em operações contra as linhas de comunicação japoneses na Birmânia e Tailândia. e posteriormente os Beaufighter F Mk X também foram usados em missões diurnas de intrusão em Burma. A sua alta velocidade em ataques a baixa altitude tornava os ataques do Beaufighter muito eficazes, independentemente das condições meteorológicas muitas vezes atrozes.
Beaufighter TF Mk X, ultimo modelo de produção,
com radar AI Mk VIII no nariz em forma de dedal e
uma longa extensao do estabilizador vertical 

A Real Força Aérea Australiana (RAAF) utilizou o Beaufighter Mk 21 (versão construida localmente vulgarmente conhecida por DAP Beaufighter) no teatro do Sudoeste do Pacífico , onde foi empregue em missões contra a armada e marinha mercante Japonesa. A mais famosa operação em que participaram foi a Batalha do Mar de Bismarck , onde foram usados no papel de supressão de fogo numa força mista com bombardeiros da USAAF Douglas A-20 Boston e B-25 Mitchell .

A partir de final de 1944, as unidades  Beaufighter da RAF da foram envolvidos na Guerra Civil Grega , de onde foram retirados em 1946.

No pós-guerra muitos Beaufighter Mk X s foram convertidas em rebocadores de alvos como o TT.10 servido em várias unidades de apoio da RAF até 1960. O último voo de um Beaufighter em serviço da RAF ocorreu em 12 de maio de 1960.

Até setembro de 1945, foram produzidos no Reino Unido 5.564 Beaufighters. Na Autrália foram construidos a partir de 1944 até 1946 (em substituição da produção do Beaufort), 365 Beaufighter. Estes eram uma variante bombardeiro-torpedeiro equipado com motores Hercules VII ou VIII e pequenas alterações ao armamento, designada por Beaufighter  Mk.21

O Beaufighter foi usado pelas forças aéreas de Portugal , Turquia e República Dominicana e pela Força Aérea israelita, que os comprou clandestinamente em1948.

Nos dias de hoje existem vários exemplares de Beaufighter em museus na Austrália (3), Reino Unido (3, um deles em restauração), Estados Unidos da América (1) e Canadá (1 semi-restaurado).

EM PORTUGAL
.
Entre 13 e 28 de Março de 1945 chegaram a Portugal 16 Bristol Beaufighter TF Mk X, destinados à Esquadrilha B das Forças Aéreas da Armada (designação, na época, da Aviação Naval), instalada no Aeroporto da Portela. Faziam parte de um lote de 500 aviões, os últimos Beaufighter produzidos pela Bristol, não considerando os 10 aviões da série SR construídos mais tarde.
Beaufighter TF Mk X, AN Portuguesa, 1946

Estavam poderosamente armados com quatro canhões de 20 mm instalados no nariz e seis metralhadoras de 7,7 mm instaladas nas asas e mais uma metralhadora Vickers K, também de 7,7 mm, instalada na torre dorsal. Para além deste armamento, podiam transportar bombas sob as asas ou um torpedo sob a fuselagem. Destinaram-se a substituir os obsoletos Bristol Blenheim, abatidos no ano anterior.

Em 22 de Outubro de 1945 descolaram de Lisboa três Beaufighter, que voaram para norte, ao longo da costa. Após passagem por S. Jacinto, gripou um motor do BF-4, obrigando-o a aterragem forçada nas dunas perto de Ovar. O avião partiu-se a meio e incendiou-se, que que resultou a morte dos três tripulantes. A avaria foi provocada pela rotura do veio da bomba de lubrificação do motor, facto inédito que motivou o reforço dessas peças em todos os motores da Bristol.

Perante a causa que motivou o desastre, a Bristol ofereceu o 17° Beaufighter, também do modelo TF Mk X, mas com a antena do radar num dedal no nariz e barbatana dorsal no prolongamento da deriva. Chegou a Portugal em 1946, tendo descolado da Grã-Bretanha tripulado por portugueses. Foi-lhe atribuída a matrícula BF-17.

Beaufighter TF Mk X, AN Portuguesa, 1946
Foram mantidos com a camuflagem de origem, com as superfícies superiores pintadas a cinzento e verde escuro e as inferiores em cinzento-mar. Ostentavam a Cruz de Cristo, sobre círculo branco, em ambos os lados das asas, e as cores nacionais, sem escudo, a toda a altura do leme de direcção. O número de matrícula estava pintado em pequenos algarismos pretos na fuselagem, parcialmente sob o estabilizador horizontal. Ostentavam uma âncora preta, símbolo da AN, no estabilizador vertical.

Os Beaufighter tiveram curta vida em Portugal. Inexplicavelmente, enquanto a RAF os utilizou até 1960, a AN abateu-os prematuramente em 1946. O Beaufighter número BF-13 da AN, número de série RAF RD 253, encontra-se hoje no Royal Air Force Museum de Hendon, Inglaterra.

Outro Beaufighter que serviu na AN foi cedido ao Museu da Força Aérea Sul-Africana, estando actualmente no National Museum of Flight no East Fortune Airfield, em Edinburgo (Escócia). Esta cedência foi compensada mais tarde, quando este museu ofereceu um Spitfire Mk IX (modelo que nunca equipou as esquadrilhas portuguesas) ao Museu do Ar, onde se encontra em exposição.

Lamentavelmente, no inventário dos aviões do Museu do Ar não consta qualquer Bristol Beaufighter.

# Revisto em 25-07-2016#
.
DESENHOS
.


.
PERFIL
.

.
FONTES
VER TAMBÉM
.

  • No YouTube:

Bristol Beaufighter - Ten Gun Terror